Monday, December 18, 2006

O Que Me Resta

O que me resta, amor,
Senão morrer como quem ama...

Desalinho, caminho torto
No porto, no ninho
Na rota sem rumo
Sem prumo, na corda
Bamba do samba
Da vida cigana

Essa doidivanas vida
De quem ama
O torto fazer do sumo
Doce engano, assumo
O resto do resto do assunto
Que é a predileção
Por morrer de amar.

O que me resta, amor,
Senão morrer de desejo
E amor...

Ainda que seja
Para ser delator
Dessa dor que esmaga
A vida
Desse tanto que desarma
E cativa
Desse muito que me dói
E sangra...

O que me resta, amor,
Senão morrer como quem ama...

Morrer assim
Como o que derrama
Como o que precipita,
E grita, e se agita,
E se inflama...
Morrer assim, criança,
Assim como quem ama...

O que me resta, amor,
Senão morrer de ti.


Parceria com Rabuja

Tuesday, December 05, 2006

Primavera

De nada me serviu
A palavra sutil
Que ao verso concebeu
Força de toda vida
Na febre da investida
Quando a sede se deu.

De nada me serviu
As loucuras de poeta
As alegrias de profeta
Tal certeza vil...

Nada me serviu
Quando a tua primavera
Em minha carne se abriu.

Vã Lembrança Vazia

E abateu-se o silêncio em seu coração...

Silêncio de martírio, devoção;
Silêncio de solidão.
Saudades de uma dialética tão harmônica
Quanto o prazer do instante
Na eternidade da dor.

E enclausurou-se em seu peito a angústia...

Onde a brisa cessara
E as águas, há muito,
Murmúrios não tinham mais.

E então a luz fez-se treva.
E o que era chama
E ardia,
Tornou-se vã lembrança...
Vazia.

O Que Te Dou

Vês...? É o meu amor...
É de lá que ele vem.
Vem de febre, vem de grito...
E o seu, amor,
De onde vêm?

Dos gemidos arfantes
Embalsamados e delirantes...?
Da planta verde e espinhenta
Que traz a água-vida
Do deserto sem eco do teu peito...?
Responde, amor, de onde...?

Sabes bem o que há na terra.
Sabes todo o quanto te ensinaram.
E agora, que choras, sabes bem o que te dou.
E, louco assim, voraz
Lanço em ti, e sem demora,
Toda a sorte de quem espera...

Vês...? É o meu amor...
É de lá que ele vem.
Vem de asa, vem de brasa...
E o seu, amor,
De onde vêm?
Tenho mesmo me perguntado se não é hora de partir...
Na verdade, tenho lutado contra isso desesperadamente.
Já não sei bem porquê.

Vivo sonhando... mas sonho vivendo
E me entrego feito os loucos
Em suas cegueiras de desejos.

A tantos perigos me exponho em meu querer...

A tantos lugares só eu posso te levar...
Sabe-se lá o que deu em mim...

É sempre assim.
Navego feito um louco
Sem rumo, céu torto
E um porto...
De vidro, papel ou marfim,
Enfim...
É sempre assim.
Um porto e o fim.

Sabe-se lá o que deu em mim...

Alma Nua

E foi assim... Acordou e saiu.
Um bucadinho de amor semeado aqui
Outro bucadinho espalhado ali
E foi tecendo seu caminho
Entorpecendo seu mundinho
De poesia e emoção...

Mas a sina do poeta
É ser poesia concreta
Perdida na abstração.

E o tanto mudar daquela sorte
Nos beijos incontidos da vida
No eterno amor que se ama
Despiu-se e saiu...
No silêncio de tanto dizer
Despiu-se e saiu...

Wednesday, November 29, 2006

Fins

Um pano...
Eu preciso de um pano.
Um pano virgem, de cor branca.
Mas nada sofisticado.
Nada de rendas, sedas, linhos, cetins...
Um pano simples,
Simples e branco.
E água. Muita água.
Hidrelétricas inteiras...
Rios de águas puras...
Puras e límpidas.
Transparentes.
Como as teimosas auroras em nossos olhos...
Como os fins que nem sempre se justificam...

Friday, June 09, 2006

Cheiro seco

À ti, que baila, branca bruma,
Em densa e torpe mata escura
De leitos tantos e tristes espumas
De sonhos mil da juvenil procura

À ti, que brinda, negra noite
Ao céu, ao sal, dos retirantes
Enforca o riso e beija o açoite
Na morte-vida de peitos arfantes

Entrego o olor outonal que já nem sentes
Azedo-doce de caminho errante
Ao pranto mudo de corpo vibrante

De alma dorida e pele ardente
Esse cheiro de praga, de pó, de semente
Cheiro seco de poeta, teu irmão claudicante.

Homem de verso

Sou homem de verso...
De verso e reverso
De laço e embaraço
De olhar e de gesto

Sou que nem ave de arribação
Sem caminho nem destino
Sou tropeço de menino
Que só escuta coração

Sou homem diverso...
O reverso do homem de aço
Sou luz, sou mancha, sou traço

Na tela escura desse universo
A todo caminho minha alma empresto
A cada desvio, silencio e refaço.

Monday, May 15, 2006

Não tenho dimensões de nada.
Mas na imensidão do meu silêncio
Pareço sentir cada milímetro
Da solidão de todos nós.
Dias passam
Claros
Escuros feixes
De sonhos
Sonhos gotejam
Em sangue
Derramam desejo
Cospem paixões
E a dor
É quase um sorriso.

Ponto

Se te encontro em qualquer canto
Em qualquer canto eu me encontro,
E me encanto.
Se te encanto em qualquer ponto,
É como um conto o meu encanto.
Esse teu corpo é que é meu canto...
Esse teu sexo que me faz pronto...
Essa tua dor que me escorre o pranto...
Esse teu gozo que me deixa tonto...
Canto e verso tanto
Em meio a tantos contra-tempos;
Conto o tempo e canto
A razão do nosso encontro.
Somos um, inteiro;
É esse o nosso encanto.
Somos dois, somos mais;
Somos nossos e ponto.
Tudo de amor em mim foi consumido...
Como um Neruda aberto por acaso,
De revérbero desmedido e temperaturas infernais.
Como de outra maneira não poderia ser...

Wednesday, May 03, 2006

O que fiz do meu amor, sede infinita...
Sou córrego triste e sonolento
Ele bem mais que mar revolto se agita...

E que de tudo que há na terra eu faça poesia. Que chegue terremoto, avalanche, dissonante, maresia E que eu faça do acorde puro e seco o ...